Syn Hae Yoon · Billy K. Huh · Salahadin Abdi · Saba Javed
A terapia a laser de alta intensidade (High-Intensity Laser Therapy – HILT) vem sendo cada vez mais incorporada aos protocolos terapêuticos para o manejo de feridas. Nos últimos anos, o laser passou a ocupar um papel relevante como tratamento adjuvante em diferentes contextos clínicos, especialmente pela sua capacidade de estimular processos biológicos envolvidos na cicatrização tecidual.
Este artigo apresenta uma revisão narrativa que avalia a eficácia da HILT na cicatrização de feridas e discute os potenciais benefícios da sua associação com outras intervenções terapêuticas.
O papel do laser na cicatrização tecidual
A aplicação do laser na cicatrização baseia-se no princípio fisiológico da monocromaticidade da luz, que permite a fotoativação e a bioestimulação celular por meio da interação com cromóforos específicos do tecido. Essa interação ocorre em uma ampla faixa de comprimentos de onda, desde lasers excimer ultravioleta (193 nm) até lasers de dióxido de carbono infravermelhos (10,6 µm).
Em 1967, o médico húngaro Dr. Endre Mester introduziu o conceito da terapia a laser de baixa intensidade, demonstrando que a irradiação laser poderia estimular a cicatrização de feridas crônicas e úlceras, contrariando preocupações iniciais sobre possíveis danos térmicos à pele. Diferentemente dos lasers ablativos, os lasers não ablativos são capazes de induzir produção e remodelação de colágeno sem causar lesão térmica significativa.
Desde então, a terapia a laser tornou-se amplamente utilizada na medicina moderna. Diversos estudos demonstram que a bioestimulação promovida pelo laser influencia positivamente a cicatrização, estimulando a proliferação de fibroblastos, aumentando a síntese de colágeno e favorecendo a formação de tecido de granulação e matriz extracelular.
No entanto, lasers de baixa ou média intensidade apresentam limitações na profundidade de penetração. Nesse contexto, a terapia a laser de alta intensidade (HILT) destaca-se por permitir maior alcance tecidual, sendo especialmente útil no tratamento de feridas de espessura total.
Objetivo da revisão
Esta revisão narrativa foi desenvolvida com o objetivo de:
- Avaliar os benefícios da terapia a laser de alta intensidade na cicatrização de feridas
- Analisar as evidências clínicas disponíveis
- Identificar limitações metodológicas dos estudos existentes
- Propor recomendações para pesquisas futuras
Metodologia da busca científica
Foi realizada uma busca abrangente na literatura até abril de 2023, utilizando as bases de dados Embase, MEDLINE, PubMed e Cinahl, além de buscas manuais complementares.
Os termos de busca incluíram:
- high-intensity laser therapy
- high-power laser therapy
- laser therapy
- wound
- ulcer
- wound healing
Os principais desfechos analisados foram:
- Redução da área da ferida (WSA – wound surface area)
- Melhora do aspecto da ferida (WA – wound appearance)
- Outros instrumentos objetivos de avaliação de cicatrização
Estudos incluídos
Foram selecionados:
- Seis estudos clínicos em humanos avaliando o uso da HILT na cicatrização de feridas
- Um estudo experimental em animais, que analisou o efeito da HILT em feridas agudas em camundongos
Entre os estudos incluídos, destacam-se investigações sobre:
- Úlceras do pé diabético
- Feridas crônicas refratárias
- Cicatrização tardia de cesariana em mulheres diabéticas
- Úlceras neuropáticas em crianças com espinha bífida
Os lasers mais utilizados foram Nd:YAG pulsado e lasers de alta potência, com diferentes protocolos de energia, duração e frequência.
Principais achados
Apesar do número limitado de estudos, todos os trabalhos incluídos demonstraram resultados favoráveis na melhora das condições das feridas tratadas com HILT.
Os benefícios observados incluem:
- Redução significativa da área da ferida
- Melhora do aspecto clínico do tecido
- Aceleração do processo de cicatrização
- Boa tolerabilidade do tratamento
No entanto, os estudos apresentaram grande heterogeneidade em:
- Parâmetros de tratamento
- Protocolos de irradiação
- Tipos de feridas
- Métodos de avaliação
- Procedimentos de cegamento
Essa variabilidade limita a comparação direta entre os resultados e a padronização dos protocolos.
Interação laser-tecido e escolha do equipamento
A eficácia da HILT está diretamente relacionada à interação entre o comprimento de onda do laser e os tecidos biológicos. Lasers de alta intensidade permitem maior absorção por cromóforos como hemoglobina e água, promovendo efeitos biológicos mais profundos.
Essa característica é particularmente relevante para feridas crônicas e de difícil cicatrização, nas quais a penetração superficial não é suficiente para estimular adequadamente os tecidos comprometidos.
Limitações da evidência atual
Embora os resultados sejam promissores, os autores destacam que:
- O número de estudos disponíveis ainda é reduzido
- Muitos trabalhos apresentam amostras pequenas
- Há falta de padronização dos parâmetros de laser
- São necessários ensaios clínicos randomizados de alta qualidade
Atualmente, os dados são insuficientes para estabelecer protocolos universais para o uso da HILT no manejo de feridas.
Conclusão
A terapia a laser de alta intensidade demonstra potencial significativo na cicatrização de feridas, com resultados favoráveis em diferentes contextos clínicos. Os achados sugerem que a HILT pode acelerar o processo cicatricial e melhorar a qualidade do tecido reparado.
No entanto, apesar dos resultados encorajadores, mais estudos clínicos bem desenhados são necessários para definir os parâmetros ideais de tratamento, identificar quais tipos de feridas se beneficiam mais da técnica e estabelecer protocolos padronizados.
A HILT representa uma ferramenta promissora dentro da medicina moderna, reforçando o papel do laser como tecnologia terapêutica segura, eficaz e em constante evolução.
LEIA MAIS EM: https://doi.org/10.1007/s10103-024-04146-4




