Fabrício Doin Paz de Oliveira, MD; Bruno Lorenzo Scolaro, MD; Ana Carolina Buffara Blitzkow, MD; Sonia Cristina Cordeiro Time, MD; Alline Maciel Pinheiro Borges, MD; Thais Alencar Pinto dos Santos, MD; Alfadl Abdulfattah, MD; Elisa Treptow Marques Lemos, MD; Glicia Estevam de Abreu, MD, PhD
Resumo
Contexto:
A hemorróidoplastia a laser (LHP) tem surgido como alternativa minimamente invasiva à hemorroidectomia excisional, porém os dados ainda são heterogêneos, especialmente em relação aos parâmetros de energia e aos desfechos de segurança.
Métodos:
Este estudo multicêntrico retrospectivo incluiu 100 pacientes com doença hemorroidária grau III tratados com LHP em seis centros brasileiros entre janeiro de 2021 e agosto de 2023. Os desfechos primários foram dor pós-operatória (Escala Visual Analógica — EVA), sintomas proctológicos (Escala de Sintomas Proctológicos — PSS) e complicações. A associação entre energia total aplicada e complicações foi analisada por regressão logística multivariada.
Resultados:
A mediana da EVA atingiu pico de 3,0 no 7º dia e caiu para quase remissão até o 14º dia, mantendo-se mínima por até 1 ano. Os escores da PSS acompanharam essa melhora, chegando a zero a partir do 30º dia. A taxa média de complicações em 30 dias foi de 19,7%, com pico de 27% no 14º dia e taxa cumulativa de 44%. A maioria das complicações foi leve (edema, plicomas), e apenas quatro pacientes necessitaram reintervenção. Maior energia total por nódulo associou-se a mais complicações a partir do 14º dia. A excisão de plicomas com CO₂ (n=49) não aumentou a morbidade.
Conclusões:
A LHP mostrou-se segura e eficaz para hemorroidas grau III, promovendo alívio precoce da dor, resolução dos sintomas e alta satisfação. A padronização dos parâmetros de energia pode reduzir riscos, e a remoção de plicomas com CO₂ é viável e segura.
Introdução
A doença hemorroidária afeta entre 20% e 50% da população, resultando em cerca de quatro milhões de atendimentos anuais. A maioria dos pacientes apresenta doença de baixo grau, enquanto os graus III e IV representam menos de 10% dos casos.
A hemorroidectomia excisional continua sendo recomendada para hemorroidas externas ou internas associadas a sintomas importantes, mas está relacionada a:
- dor pós-operatória intensa
- longo período de recuperação
- complicações como estenose anal e incontinência fecal
A LHP foi desenvolvida como alternativa menos invasiva, porém os estudos mostram grande variabilidade técnica, principalmente em:
- energia total por nódulo
- número de disparos
- modo de emissão
- duração do pulso
Revisões sistemáticas reforçam a necessidade de padronização para evitar falhas terapêuticas e complicações. O presente estudo multicêntrico descreve a experiência brasileira com LHP no tratamento de hemorroidas grau III, com foco nas complicações e na energia utilizada.
Métodos
Foram incluídos pacientes de 18 a 80 anos com hemorroidas internas grau III sintomáticas refratárias ao tratamento clínico ou com recidiva após cirurgia.
Critérios de exclusão:
- IST
- doença inflamatória intestinal
- lesões malignas
- cirurgias orificiais simultâneas
- uso de anticoagulantes
A LHP foi realizada com fibra plana de 600 μm acoplada ao aparelho Neolaser, potência entre 6–8W em modo contínuo ou modulado.
Protocolo cirúrgico:
- Incisão mínima
- Fibra posicionada a 2–3 cm da margem anal
- Três aplicações por gaveta hemorroidária (central, direita e esquerda)
- 9–10 disparos por nódulo (18–24 J cada)
- Mucopexia seletiva quando necessário
- Excisão de plicomas com laser de CO₂ quando presente
Seguimento:
- Avaliação por EVA e PSS
- Acompanhamento diário nos primeiros dias
- Consultas presenciais até 1 ano
Resultados
Características da amostra
- n = 100 pacientes
- Média de idade: 49,9 anos
- 60% homens
- Duração mediana dos sintomas: 51 meses
A média de energia total aplicada foi de 647 J, com média de 213 J por nódulo.
Metade dos pacientes (49%) também realizou remoção de plicomas com laser de CO₂.
Dor (EVA)
- Pico no 7º dia: EVA 3,0
- Remissão quase completa no 14º dia
- EVA 0 entre 30 e 360 dias
Sintomas (PSS)
- Redução progressiva e significativa
- PSS = 0 a partir do 30º dia
Complicações
- 19,7% de complicações nos primeiros 30 dias
- Pico no 14º dia (27%)
- Taxa cumulativa: 44%
- Mais comuns: edema e plicomas
- Apenas 4 pacientes necessitaram reintervenção
Associação com energia
- Maior energia → mais complicações nos dias 14 e 30
- Mucopexia mostrou efeito protetor no 30º dia
Discussão
A LHP proporcionou:
- redução rápida e sustentada da dor
- melhora completa dos sintomas até 30 dias
- retorno ao trabalho em média em 7 dias
- alta satisfação (97%)
A energia total foi o fator mais associado a complicações tardias, reforçando a importância da padronização técnica. A remoção de plicomas com CO₂ não aumentou dor nem complicações.
Limitações do estudo:
- desenho retrospectivo
- ausência de grupo controle
- heterogeneidade entre centros
- sem cálculo amostral prévio
Conclusões
A LHP é uma técnica eficaz e segura para hemorroidas grau III, com:
- alívio precoce e duradouro da dor
- resolução dos sintomas
- baixa taxa de complicações graves
- alta satisfação dos pacientes
A padronização da energia utilizada e a seleção cuidadosa dos pacientes podem otimizar a segurança do procedimento.
Leia mais em: DOI: 10.1177/25785478251386982



